Vestido de Noiva Vegano, Por Renata Buzzo

Por Afonso Ferreira (UOL)

Por Renata Buzzo
Vestido de Noiva Vegano, Por Renata Buzzo

Criar vestidos de noiva sem usar seda, ossos, chifres ou qualquer outra matéria-prima de origem animal. Esse é o desafio da estilista paulista Renata Buzzo, 26.

Renata Buzzo, 26.
Renata Buzzo, 26.

 A inspiração, segundo Buzzo, veio da estilista vegana Stela McCartney, filha do ex-Beatle Paul McCartney. “Ela é muito engajada em causas sociais. Sem dúvida, eu me inspiro nela para fazer moda sem maltratar animais”, afirma.

O estilo de Buzzo segue o conceito “vegan friendly” ou, simplesmente, vegano –uma variação dos vegetarianos que, além de não comer carne, não consome nenhum produto de origem animal, seja para comer ou vestir.

A estilista, que também faz roupas para madrinhas de casamento, declara que os vestidos de noiva tradicionais, normalmente, utilizam a seda, cuja origem vem do bicho-da-seda. Buzzo não aprova a forma como o material é produzido.

No processo de extração convencional, segundo o presidente do Instituto Vale da Seda do Paraná, João Berdu, os casulos são aquecidos e as crisálidas –fase intermediária entre a lagarta e a mariposa– morrem.

Em substituição à seda, ela –que é vegana há um ano e meio– utiliza tecidos de fibra vegetal, principalmente algodão, e sintéticos como crepe, musseline e tule.

Além disso, de acordo com Buzzo, alguns vestidos tradicionais possuem botões feitos com chifres ou ossos de animais e pérolas, que ela substitui por botões de resina, canutilhos (tubinhos de vidro com tamanhos que variam de 3mm a 30 mm  e possuem diferentes acabamentos), miçangas (peça com pequeno furo central  por onde é possível passar um fio) e pedras como turquesa e coral.

A ideia do negócio, de acordo com a estilista, veio para unir a profissão com sua filosofia de vida. “Já trabalhei com outros estilistas e a maioria utiliza seda e couro, o que é incoerente para uma vegana como eu.”

Negócio começou com R$ 5.000

A marca, que leva o nome da estilista, começou as atividades em janeiro de 2012. Os primeiros pedidos vieram de amigas e conhecidas. Somente no ano passado, ela vendeu 15 vestidos. Os preços variam de R$ 4.000 a R$ 15 mil. O faturamento não foi divulgado.

Já os vestidos de noiva tradicionais custam um pouco menos. Segundo a coordenadora do curso de design de moda do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Valeska Nakad, o preço de venda varia de R$ 3.000 a R$ 10 mil, enquanto o aluguel de um vestido para casamento custa, em média, R$ 1.000.

De acordo com Buzzo, os vestidos são costurados à mão e levam até três meses para serem concluídos. O investimento inicial foi de R$ 5.000 na compra de matéria-prima e na construção do site. Um apartamento vago de uma de suas assistentes foi transformado em ateliê.

No entanto, o espaço não é aberto ao público. As clientes são atendidas apenas com hora marcada. Até o primeiro semestre de 2014, segundo a estilista, a meta é ter um ateliê em uma área nobre e comercial da capital paulista.

“Quero atingir o público elitizado e fazê-lo se preocupar mais com os animais. Ainda há muitas pessoas das classes altas que utilizam couro e pele de animais nas roupas”, diz.

Buzzo ainda doa 10% do seu lucro a instituições que ajudam animais abandonados. “Vejo este valor como um investimento. Ganho credibilidade com o público. Não faço vestidos só para veganas, mas também para todas que gostam de animais e se sensibilizam com a causa”, afirma.

Mercado ainda é pouco explorado

O mercado para produtos de origem não-animal começa a crescer no Brasil. Segundo pesquisa do Ibope, 8% dos brasileiros (15,2 milhões de pessoas) são vegetarianos ou veganos.

Apesar do número, de acordo com a presidente da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), Marly Wincler, há poucas empresas no mercado para atender à procura por roupas, calçados e cosméticos que não tenham origem animal.

A grande dificuldade para o empresário, segundo Wincler, é encontrar fornecedores que respeitem os preceitos veganos.

“Às vezes, eles usam produtos que é de origem animal e não sabem. Se tiver algo que seja de origem animal, mesmo que venha de um inseto –como é o caso da seda e do mel–, o produto não pode ser vendido como vegano”, declara.

Para ajudar empreendedores a encontrarem fornecedores, a SVB está reestruturando um selo de produto vegano. A certificação deve estar disponível a partir do segundo semestre.

O selo será concedido àqueles que comprovarem que em toda a cadeia produtiva não há nada de origem animal nem testes feitos nos bichos.

Conceito deve ser seguido em cada detalhe

Para a professora de moda Valeska Nakad, quem for atuar com vestuário vegano tem de seguir o conceito em todos os detalhes da marca.

A embalagem do produto, o manequim e até a tinta da loja tem de estar em conformidade com a filosofia da empresa. “É um erro se declarar vegano ou ecologicamente correto, mas utilizar banco de couro no veículo de transporte e poluir o meio ambiente”, diz.

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